sexta-feira, 5 de junho de 2020

"Opinião" com a poetisa Angeli Rose


No jardim

As antologias são um formato literário bastante antigo na história da sociedade letrada. O antologista mais antigo de que se tem notícias foi o poeta grego Meléagro, e, em realidade, o termo originalmente designava "coleção de flores", numa aproximação etimológica (anthos+lego), mas sabemos que se refere à seleção de textos literários compendiados, podendo também ser de filmes de cinema e de músicas, por exemplo.

Outros termos também foram usados com mais frequência como "florilégio", "cancioneiro", "flores", "romanceiro", no entanto, somente a partir do século XVIII a palavra "antologia" passou a ser mais utilizada. O contexto que originou tal recurso de edição e divulgação de textos literários em forma de antologia foi bem diferente do de hoje e não cabe aqui apresentá-lo, entretanto, cabe comentar que as antologias vêm ocupando um espaço no meio literário que favorece a divulgação e a maior visibilidade de autores menos conhecidos do público leitor ou estreantes, ou ainda possibilitam ter acesso a diferentes autores com investimento menor, o que colabora para a democratização e acesso ao conhecimento, assim como tem viabilizado o uso pedagógico historicamente, quer por temas, gêneros, ou outro tipo de especificação.

Um grande exemplo dessa vocação da antologia para reunir "flores" ou textos literários relevantes são aquelas organizadas por Manuel Bandeira, que além de grande poeta, escritor, foi exímio professor do Pedro II do Rio de Janeiro.

Essa breve introdução que elaborei foi uma maneira de me aproximar da experiência de participar da antologia organizada por Celso Ricardo Almeida em forma de ebook.

Venho participando há alguns anos de antologias impressas e digitais, por diferentes caminhos de inclusão, e quase sempre tem sido uma experiência bastante positiva e enriquecedora, além de possibilitar fazer novos amigos e ler novos (para mim) autores.

Esta antologia traz um desafio para o leitor bem interessante, logo a partir do título: "POEMAS DA QUARENTENA PARA LER EM CASA, "volume 1; pois é lançado para o leitor a atividade de "ler em casa", em meio ao contexto em que estamos submersos, portanto, a finalidade aparente sobre tratar-se de textos próprios para serem lidos "em casa", isto é, no calor da hora do isolamento social, propõe certa reflexão sobre o momento histórico pelo qual passa a humanidade no planeta. Daí, a dimensão visionária do projeto, que talvez pesquisadores venham a descobrir e verificar melhor na corrida dos tempos .

Foi uma iniciativa ousada, então, visto que estamos num país de poucos leitores e quando muito somos lidos pelos pares, nossos colegas de ofício.  Mas o organizador, ágil, sagaz e dedicado, entendeu desde o princípio da pandemia, penso, que impactos viriam se manifestar também na literatura. E temos visto que muitos têm igualmente seguido tal provocação, já que as antologias, os concursos e saraus proliferam com essa temática de modo explícito ou implícito.

A liberdade facultada aos autores desta antologia presentifica-se na diversificação de abordagens, temas, versões e vozes líricas que se anunciaram na seleção final.

Para mim, posso dizer que a participação foi um processo de fato enriquecedor e gratificante, uma vez que novos conhecimentos de novos autores/as sempre é algo intenso para um escritor, além de possibilitar fazer novos contatos com pessoas interessadas em literatura, eu diria "sem fronteiras".

A mim, o chamado de escrever algo "para ler em tempo de quarentena" foi mais uma oportunidade para reafirmar o desejo de escrever e ser lida e também conhecer outras "flores", pois como escrevi em "Poemeto"(2016) "quando estou em mim/todo lugar é um jardim"

Espero que todos/as tenham os sentidos estimulados como eu os tive ao buscar os "aromas"  de cada texto/flor singular integrante dessa antologia. Obrigada.

E vida longa a "poemas para ler em casa"!

Angeli Rose - Dra. em Letras, mediadora em EAD (CEDERJ/UNIRIO), pesquisadora-colaboradora em alguns grupos investigativos; contadora de histórias; escritora e poetisa com participações em diversas antologias nacionais e internacionais.

 


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