No jardim
As antologias são um formato literário bastante antigo na história da sociedade letrada. O antologista mais antigo de que se tem notícias foi o poeta grego Meléagro, e, em realidade, o termo originalmente designava "coleção de flores", numa aproximação etimológica (anthos+lego), mas sabemos que se refere à seleção de textos literários compendiados, podendo também ser de filmes de cinema e de músicas, por exemplo.
Outros termos também foram usados com mais frequência como
"florilégio", "cancioneiro", "flores", "romanceiro",
no entanto, somente a partir do século XVIII a palavra "antologia"
passou a ser mais utilizada. O contexto que originou tal recurso de edição e
divulgação de textos literários em forma de antologia foi bem diferente do de
hoje e não cabe aqui apresentá-lo, entretanto, cabe comentar que as antologias
vêm ocupando um espaço no meio literário que favorece a divulgação e a maior
visibilidade de autores menos conhecidos do público leitor ou estreantes, ou
ainda possibilitam ter acesso a diferentes autores com investimento menor, o
que colabora para a democratização e acesso ao conhecimento, assim como tem
viabilizado o uso pedagógico historicamente, quer por temas, gêneros, ou outro
tipo de especificação.
Um grande exemplo dessa vocação da antologia para reunir
"flores" ou textos literários relevantes são aquelas organizadas por
Manuel Bandeira, que além de grande poeta, escritor, foi exímio professor do
Pedro II do Rio de Janeiro.
Essa breve introdução que elaborei foi uma maneira de me aproximar da
experiência de participar da antologia organizada por Celso Ricardo Almeida em
forma de ebook.
Venho participando há alguns anos de antologias impressas e digitais, por
diferentes caminhos de inclusão, e quase sempre tem sido uma experiência
bastante positiva e enriquecedora, além de possibilitar fazer novos amigos e
ler novos (para mim) autores.
Esta antologia traz um desafio para o leitor bem interessante, logo a
partir do título: "POEMAS DA QUARENTENA PARA LER EM CASA, "volume 1;
pois é lançado para o leitor a atividade de "ler em casa", em meio ao
contexto em que estamos submersos, portanto, a finalidade aparente sobre
tratar-se de textos próprios para serem lidos "em casa", isto é, no
calor da hora do isolamento social, propõe certa reflexão sobre o momento
histórico pelo qual passa a humanidade no planeta. Daí, a dimensão visionária
do projeto, que talvez pesquisadores venham a descobrir e verificar melhor na
corrida dos tempos .
Foi uma iniciativa ousada, então, visto que estamos num país de poucos
leitores e quando muito somos lidos pelos pares, nossos colegas de
ofício. Mas o organizador, ágil, sagaz e dedicado, entendeu desde o
princípio da pandemia, penso, que impactos viriam se manifestar também na
literatura. E temos visto que muitos têm igualmente seguido tal provocação, já
que as antologias, os concursos e saraus proliferam com essa temática de modo
explícito ou implícito.
A liberdade facultada aos autores desta antologia presentifica-se na
diversificação de abordagens, temas, versões e vozes líricas que se anunciaram
na seleção final.
Para mim, posso dizer que a participação foi um processo de fato
enriquecedor e gratificante, uma vez que novos conhecimentos de novos
autores/as sempre é algo intenso para um escritor, além de possibilitar fazer
novos contatos com pessoas interessadas em literatura, eu diria "sem
fronteiras".
A mim, o chamado de escrever algo "para ler em tempo de
quarentena" foi mais uma oportunidade para reafirmar o desejo de escrever
e ser lida e também conhecer outras "flores", pois como escrevi em
"Poemeto"(2016) "quando estou em mim/todo lugar é um
jardim"
Espero que todos/as tenham os sentidos estimulados como eu os tive ao
buscar os "aromas" de cada texto/flor singular integrante dessa
antologia. Obrigada.
E vida longa a "poemas para ler em casa"!
Angeli Rose - Dra. em Letras, mediadora
em EAD (CEDERJ/UNIRIO), pesquisadora-colaboradora em alguns grupos
investigativos; contadora de histórias; escritora e poetisa com participações
em diversas antologias nacionais e internacionais.
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